Professor Danilo Damasceno interpretando o poema "Rogando Pragas" de Patativa do Assaré |
Dizia o velho Agostinho
que este mundo é cheio de arte
e se encontra em toda parte
pedaços de mau caminho
um pessoal meu vizinho,
sem amor e sem moral
atrás de fazer o mal,
para feijão cozinhar
começaram a roubar
as varas do meu quintal
Toda noite e todo dia
iam as varas roubando
e eu já não suportando
aquela grande anarquia
pois quem era, eu não sabia
pra poder denunciar
com aquele grande azar
vivia de saco cheio
até que inventei um meio
pra do roubo me livrar
Eu dei a cada freguês
com humildade o perdão
e lancei a mladição
em quem roubasse outra vez
e com muita atividez
na minha pena peguei,
umas estrofes rimei
sobre as linhas de uns papéis
rogando praga cruéis
e lá na cerca botei
Deus permite que o safado
sem-vergonha ignorante
que roubar de agora em diante
madeira do meu cercado
se veja um dia atacado
com um cancro de toitiço
toda espécie de feitiço
em cima do mesmo caia
e em cada dedo lhe saia
um olho de panariço
O santo Deus de Moisés
lhe mande bexiga roxa
saia carbúnculo na coxa
cravo na sola dos pés
sofra os incômodos cruéis
da doença hidropsia,
icterícia e anemia
tuberculose e diarréia
e a lepra da morféia
seja a sua companhia
Deus lhe dê reumatismo
com a sinusite crônica
a sezão, o impaludismo
e os ataques da bubônica
além de quatro picadas
de quatro cobras danadas
cada qual a mais cruel
a de veneno fatal
a urutu, a coral
jararaca e cascavel
Eu já perdoei bastante
o que puderem roubar,
para ninguém censurar
que sou muito extravagante,
mas de agora por diante
ninguém será perdoado
Deus queira que cão danado
um dia morda na cara
de quem roubar uma vara
na cerca do meu cercado
E o que não ouvir o rogo
que faço neste momento
tomara que tenha aumento
como correia no fogo,
dinheiro em mesa de jogo
e cana no tabuleiro
e no dia derradeiro
a vela pra sua mão
seja um pequeno tição
de vara de marmeleiro.
Patativa do Assaré
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