quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Professor Leitor 2010


Fita Verde No Cabelo (Nova velha história)
Guimarães Rosa
amorecultura.vilabol.uol.com.br/fitaverd.htm
Havia uma aldeia em algum lugar, nem maior nem menor, com velhos e velhas que velhavam, homens e mulheres que esperavam, e meninos e meninas que nasciam e cresciam. Todos com juízo, suficientemente, menos uma meninazinha, a que por enquanto. Aquela, um dia, saiu de lá, com uma fita inventada no cabelo.

    Sua mãe mandara-a, com um cesto e um pote, à avó, que a amava, a uma outra e quase igualzinha aldeia. Fita - Verde  partiu, sobre logo, ela a linda, tudo era uma vez. O pote continha um doce em calda, e o cesto estava vazio, que para buscar fambroesas.
    Daí, que, indo no atravessar o bosque, viu só os lenhadores, que por lá lenhavam; mas o lobo nenhum, desconhecido, nem peludo. Pois os lenhadores tinham exterminado o lobo. Então ela, mesma, era quem dizia: "Vou à vovó, com cesto e pote, e a fita verde no cabelo, o tanto que a mamãe me mandou". A aldeia e a casa esperando-a acolá, depois daquele moinho, que a gente pensa que vê, e das horas, que a gente não vê que não são.
    E ela mesma resolveu escolher tomar este caminho de cá, louco e longo e não o outro, encurtoso. Saiu, atrás de suas asas ligeiras, sua sombra também vindo-lhe correndo, em pós. Divertia-se com ver as avelãs do chão não voarem, com inalcançar essas borboletas nunca em buquê nem em botão, e com ignorar se cada uma em seu lugar as plebeinhas flores, princesinhas e incomuns, quando a gente tanto passa por elas passa. Vinha sobejadamente.
    Demorou, para dar com a avó em casa, que assim lhe respondeu, quando ela, toque, toque, bateu:
    - "Quem é?"
    - "Sou eu..." - e Fita Verde descansou a voz. - "Sou sua linda netinha, com cesto e com pote, com a Fita Verde no cabelo, que a mamãe me mandou."
    Vai, a avó difícil, disse: - "Puxa o ferrolho de pau da porta, entra e abre. Deus a abençoe."
    Fita Verde assim fez, e entrou e olhou.
    A avó estava na cama, rebuçada e só. Devia, para falar apagado e fraco e rouco, assim, de ter apanhado um ruim defluxo. Dizendo: - "Depõe o pote e o cesto na arca, e vem para perto de mim, enquanto é tempo."
    Mas agora Fita Vede se espantava, além de entristecer-se de ver que perdera em caminho sua grande fita verde no cabelo atada; e estava suada, com enorme fome de almoço. Ela perguntou:
    - "Vovozinha, que braços tão magros, os  seus, e que mãos tão trementes!"
    - "É porque não vou poder nunca mais te abraçar, minha neta...." - a avó murmurou.
    - "Vovozinha, mas que lábios, aí, tão arroxeados".
    - "É porque não vou nunca mais poder te beijar, minha neta..." - a avó suspirou.
    - "Vovozinha, e que olhos tão fundos e parados, nesse rosto encovado, pálido?"
    - "É porque já não estou te vendo, nunca mais, minha netinha...." - a avó ainda gemeu.
    Fita Verde mais se assustou, como se fosse ter juízo pela primeira vez.
    Gritou: - "Vovozinha, eu tenho medo do Lobo!..."
    Mas a avó não estava  mais lá, sendo que demasiado ausente, a não ser pelo frio, triste e tão repentino corpo.
O Livro "Fita Verde No Cabelo (Nova velha história)" foi
apresentado pela Professora da EEF Dulcinea Gomes Diniz,  Luzimar, na roda de leitura . 

terça-feira, 14 de setembro de 2010

A equipe

Gerente e Coordenadora do PAIC
Em busca do Professor Leitor
Dinâmica de encerramento
A coordenadora do projeto

Rogando Pragas

Professor Danilo Damasceno interpretando o poema "Rogando Pragas" de Patativa do Assaré

Dizia o velho Agostinho
que este mundo é cheio de arte
e se encontra em toda parte
pedaços de mau caminho
um pessoal meu vizinho,
sem amor e sem moral
atrás de fazer o mal,
para feijão cozinhar
começaram a roubar 
as varas do meu quintal

Toda noite e todo dia
iam as varas roubando
e eu já não suportando
aquela grande anarquia
pois quem era, eu não sabia
pra poder denunciar
com aquele grande azar
vivia de saco cheio
até que inventei um meio
pra do roubo me livrar

Eu dei a cada freguês
com humildade o perdão
e lancei a mladição
em quem roubasse outra vez
e com muita atividez
na minha pena peguei,
umas estrofes rimei
sobre as linhas de uns papéis
rogando praga cruéis
e lá na cerca botei

Deus permite que o safado
sem-vergonha ignorante 
que roubar de agora em diante
madeira do meu cercado
se veja um dia atacado
com um cancro de toitiço
toda espécie de feitiço
em cima do mesmo caia
e em cada dedo lhe saia
um olho de panariço

O santo Deus de Moisés
lhe mande bexiga roxa
saia carbúnculo na coxa
cravo na sola dos pés
sofra os incômodos cruéis
da doença hidropsia,
icterícia e anemia
tuberculose e diarréia
e a lepra da morféia
seja a sua companhia

Deus lhe dê reumatismo
com a sinusite crônica
a sezão, o impaludismo
e os ataques da bubônica
além de quatro picadas
de quatro cobras danadas
cada qual a mais cruel
a de veneno fatal
a urutu, a coral
jararaca e cascavel

Eu já perdoei bastante
o que puderem roubar,
para ninguém censurar
que sou muito extravagante,
mas de agora por diante
ninguém será perdoado
Deus queira que cão danado
um dia morda na cara
de quem roubar uma vara
na cerca do meu cercado

E o que não ouvir o rogo
que faço neste momento
tomara que tenha aumento
como correia no fogo,
dinheiro em mesa de jogo
e cana no tabuleiro
e no dia derradeiro
a vela pra sua mão
seja um pequeno tição
de vara de marmeleiro.

Patativa do Assaré

Apresento-lhes...



Professores da EEF Pe.Marcondes Cavalcante e EEF Maria Viana, das localidades de Logradouro e Baixo Giqui, respectivamente, mais uma vez nos surpreenderam. 
Nos reunimos no Espaço Natural da Professora Socorro Galdino.


 Ar puro, Literatura, Teatro encenado pelos alunos da Escola e o Poema "Rogando Pragas" de Patativa do Assaré, interpretado pelo Professor Danilo Damasceno.


Só aplausos!!!!
Voltamos à sede com a alma renovada!!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A Leitura que Transforma

As Rodas de Leitura

Autora: Márcia Patrícia Barboza de Souza
http://www.profala.com


A memória me remete ao tempo de infância, quando lia meus livrinhos (os quais guardo até hoje em uma estante) várias vezes até decorar toda a historinha. Fazia isso por prazer, porque gostava de olhar as figuras e já saber o que estava escrito. Mais adiante me lembro da adolescência, na verdade nem me lembro dos livros que li nessa fase, sei que os lia na escola, junto com outros colegas, em voz alta para todos acompanharem. Depois preenchíamos uma folha com algumas perguntas sobre o livro e só. ‘Só’ no sentido ambíguo da palavra. A leitura pode ser esse equívoco: atividades sem reflexão, somente obrigação em cumprir tarefas ou muitas vezes alguém sozinho, mergulhado nos escritos, concentrado no silêncio do ato de ler. Porém, ela não deve ser vista somente como característica solitária, ao contrário, a companhia de alguém pode ser bem estimulante, pode gerar conflitos de opiniões em uma discussão harmoniosa, sendo uma mesma história percebida através de ângulos diferentes.

Dessa forma os grupos de leitura apresentam características positivas e oportunizam momentos de encontros e reflexão, e fazem com que possamos conhecer melhor o outro, assim como aponta Larrosa (2004) essa é uma das transformações que a leitura pode proporcionar. É interessante destacar que nesse trabalho coletivo e interativo com a leitura podem ser discutidos textos literários, filosóficos, científicos, teológicos, dependendo dos interesses dos grupos. As rodas de leitura trabalham com o ato de ler em sua essência: ler com prazer, ler para entender o escrito, ler para introduzir-se no mundo imaginário e trazê-lo à realidade, numa espécie de descoberta com a verdade. Assim, não se pode negar que a leitura em grupo amplia e ordena nossos conhecimentos.
A literatura nos mostra que as rodas de leitura contribuem de forma significativa na formação de novos leitores, melhoram a participação, o espírito crítico, a atenção e a criatividade do sujeito. O objetivo das rodas de leitura é compreender a essência do escrito num processo dialógico da linguagem, assim como aponta Bakhtin (1992). A leitura implica construção de sentidos, pois não se resume apenas em decodificar a mensagem, mas também absorver os múltiplos sentidos que ela proporciona.
Por isso é imprescindível que o leitor compartilhe dos sentidos do autor e seja capaz de construir os seus próprios. Sentidos estes construídos no momento de interação que acontece entre texto e leitor, daí a importância que este tem em reunir seus conhecimentos sobre os gêneros discursivos para ser capaz de formular sentido nessa interação com o autor.
Nas rodas de leitura é importante considerar a colaboração sem que haja a competição, pois uma vez que o objetivo do grupo seja constituir uma troca, a presença de alguém que queira se tornar o ‘dono da palavra’ pode inibir os demais participantes e assim não permitir a interação. Para que isso não aconteça, o leitor-guia deve ser experiente e promover a igualdade de participação.
As rodas de leitura se caracterizam por seu perfil de ‘compartilhamento’, no qual os participantes se reúnem em torno de um leitor-guia. Além disso, devem oferecer um ambiente favorável ao grupo, com um número médio de freqüentadores, apresentando assuntos diversificados ou estudos aprofundados de um mesmo tema; também devem ser considerados o tempo e a intertextualidade, todos critérios que auxiliam na ampliação dos horizontes de leitura pelos não-iniciados.
Reafirmando o pensamento de Yunes (1999, p.21), “ler em círculo não é novo: novo é o uso do círculo para aproximar os leitores na troca de suas interpretações”.

Professor Leitor 2010

Roda de Leitura 08.09.2010
EEF Dom Aureliano Matos e EEF José Helder


Como a coordenadora Maria do Carmo fraseou "plantamos uma sementinha, e agora, colhamos os frutos".
O Projeto Professor Leitor, Referencial para o Aluno,é um sucesso.